REVELANDO A MAGIA

Oitenta e dois minutos! É este o tempo máximo que uma grande escola de samba do Rio de Janeiro tem para desfilar na passarela do samba durante o carnaval. Mais de 4.000 fantasias, sete ou oito enormes carros alegóricos e uma orquestra de 350 tambores precisam exibir suas qualidades neste curto tempo para tentar conquistar um dos campeonatos mais disputados do planeta. Cada detalhe, cada pluma, cada paetê pode causar a diferença entra a vitória consagradora e o desejo de voltar a disputar tudo de novo no ano seguinte.
Mostra Valeria levi e euÉ no intervalo entre duas pelejas, quando as escolas voltam a se preparar para um novo concurso no ano seguinte, que a Mostra Carnevale di Rio vai colher seu material e dele tira sua maior força. O envolvimento da artista Valéria del Cueto como o objeto de sua exposição é seu maior trunfo. O saber adquirido em muitos anos de contato quase diário com o mundo do carnaval carioca permite à fotografa transitar com naturalidade entre os diferentes espaços/ateliês que compõem a fábrica de fantasias e alegoria de uma escola de samba conhecida como barracão. Seu olhar atento e sempre curioso destaca cores, formas e relações ao mesmo tempo simples e inesperadas, como revelando a magia e o trabalho que se encontra em estado latente por trás dos materiais e fazeres carnavalescos.

Mauricio d'Paula

Através do olhar de Valéria somos levados a um passeio entre o real e o onírico que nos permite perceber o que há de trabalho e de criatividade na preparação de um evento que, não por acaso, é chamado de “a maior festa popular do planeta”. A cuidadosa escolha dos ângulos de visada, dos cortes e da textura das imagens segue paralela à própria escolha da escola de samba a ser abordada pelas lentes da artista: a Mocidade Independente de Padre Miguel, uma das mais importantes agremiações carnavalescas do país, tem se afirmado a partir do conceito de modernidade, associando ousadias visuais à qualidade visceral do som de sua bateria.

É este material, ao mesmo tempo contemporâneo e tradicional, que será reelaborado nas fotos da exposição num trabalho preciso de transformação de um local de trabalho num espaço lúdico, belo e fascinante.

Ponta

Ao abordar os bastidores de uma escola de samba e as fases de construção de seu desfile, as imagens selecionadas para esta exposição dialogam entre si de forma inesperada e surpreendente, abrindo novas perspectivas para a compreensão de um evento efêmero e destacando o volume de trabalho e arte que contribuem para um esplendor que se mostra por poucos minutos durante o carnaval, mas que as fotos de Valéria perpetuam em nossas retinas.

Felipe Ferreira
Coordenador do Centro de Referência do Carnaval. Rio de Janeiro. Brasil

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