FÉ NO SAMBA E PÉ NO CHÃO NO CAMINHO DA VITÓRIA
Vai ser páreo duro a disputa de melhor samba em 2016. Ele embalará a evolução da escola que quiser chegar ao título de campeã.
Texto e fotos de Valéria del Cueto
Para celebrar o centenário do samba nada mais justo que o Grupo Especial tivesse, o que já não acontecia há algum tempo, uma safra de composições excepcionais. Apresentando obras condizentes com a importância da efeméride e com a cara das escolas.
A inspiração musical foi fator essencial numa temporada em que driblar a crise financeira, que também chegou ao carnaval fazendo minguar verbas e patrocínios, era necessidade prioritária.
“Memórias de Pai Arraia. Um sonho pernambucano, um legado brasileiro” promete “frevar” a Sapucaí. O samba exaltando o centenário de Miguel Arraes é de Martinho da Vila, André Diniz, Mart´Nalia, Arlindo Cruz e Leonel. Tem a tarefa de ajudar o carnavalesco Alex de Souza, que assina o enredo junto com Martinho, a tirar a Vila Isabel do sufoco do rebaixamento depois da penúltima colocação ano passado.
“A Ópera dos Malandros”, de Renato Lage e Márcia Lage, trará para a Sapucaí o povo de rua das religiões africanas. Vice-campeão ano passado, o Salgueiro falará de malandros, noite, trago e mulher, numa livre adaptação da obra de Chico Buarque. No ensaio técnico, os caminhos foram abertos com o revoar de pombas brancas, o que rendeu polêmica com uma ONG protetora de animais. O fato não deve se repetir. Pelo regulamento, é proibido animais vivos no desfile.
Da malandragem para a palhaçada apenas um rápido intervalo. Depois do excelente desfile homenageando Fernando Pamplona em 2015, a campeoníssima Rosa Magalhães e Renato Almeida, presidente da São Clemente, voltam à linha irreverente, tão cara à escola de Botafogo, colocando “Mais de mil palhaços no salão” da Sapucaí. Não faltam motes e temas para situações que nós, palhaços, somos obrigados a aturar no dia a dia. Que confusão, meu Deus o Céu!
Só ele para conter a expectativa em torno da união da Portela e do polêmico carnavalesco Paulo Barros, no ritmo de outro grande samba, para percorrer a história e soltar a imaginação “No voo da Águia, uma viagem sem fim”. Veremos o caldo vai dar a mistura de ousadia e tradição, temperada pela Tabajara do Samba, a bateria comandada pelo Mestre Nilo Sérgio.
Não dá pra recuperar o fôlego antes de ser testemunha de mais uma quebra de um paradigma carnavalesco. Quem acha que sertanejo e samba não “ornam” teve que engolir o preconceito diante do belo samba do grupo de compositores da Imperatriz Leopoldinense, capitaneados por Zé Katimba, autor de “Martim Cererê”, para o enredo de Cahê Rodrigues. “É o Amor… Que mexe com minha cabeça e me deixa assim… – Do sonho de um caipira nascem os Filhos do Brasil”, é sobre a dupla Zezé de Camargo e Luciano .
Se, como eu, você achar que estará aos trancos e barrancos antes da passagem da escola que fechará o desfile de 2016, guarde um pouco do seu fôlego para conhecer o trabalho do carnavalesco revelação do Grupo Especial, Leandro Vieira, na Mangueira. A verde rosa fará louvação a “Maria Bethânia, a Menina dos Olhos de Oyá”.
Será com a força da Senhora mãe da tempestade, um pedido pro Bonfim abençoar, no batuque da bateria dos meninos da Mangueira, protegidos e alumiados, com o Rosário de Maria no peito, que se encerrará a cantoria e o desfile oficial carioca.
Que venha a quarta-feira e a sempre tensa apuração!
*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “É carnaval”, do SEM FIM… delcueto.wordpress.com
Edição Enock Cavalcanti
Diagramação Nei Ferraz Melo