Beija Flor é bi-campeã
DC acompanhou a festa carioca e relata abaixo a emoção de participar de um evento que foi assistido por 400 milhões de pessoas no mundo
Valéria del Cueto*
Especial para o Diário de Cuiabá
A melhor coisa quando chega terça feira gorda é saber que nos resta o sábado das campeãs… A maratona ainda não terminou, graças a Deus.
Fui só Sapucaí neste abençoado carnaval de 2008 e, digo pra vocês, mereci. Com todos os percalços. Como a chuva que, no domingo de carnaval, fez os reis da comunicação se curvarem a seus desígnios. Se os seres mortais assim o fizeram, diante da força da natureza, o mesmo não podemos dizer deles, dos que irmanados pela cumplicidade da fantasia carnavalesca passaram pela linha demarcatória do início de desfiles da Sapucaí e, ali, perderam-se no espaço que separa a armação da dispersão representando papéis criados pela imaginação ilimitada dos carnavalescos e seus enredos.
O que vi foi lindo. E sei, não representa nada diante do que realmente aconteceu na pista no decorrer de todo seu percurso. Digo isso por que não me sinto capaz de julgar. Dizer quem foi melhor, onde estavam os defeitos. Vi o que meus olhos me mostraram, senti o que me pegou pela frente. Tive sorte. A sorte poder de andar, circular. Sentir a emoção dos que esperam impacientes a hora de pisar na avenida. E tudo isso ainda no desfile das escolas do grupo de acesso.
Comecei o Grupo Especial, organizado pela Liga das Escolas de Samba, vendo a dispersão da saga japonesa da Porto da Pedra. Confesso, perdi a São Clemente. Cheguei tarde…
Assisti ao desfile do triunvirato: Salgueiro, Portela e Mangueira encostada na parede do corredor do setor 2. Consegui uma vaga estratégia, quase em frente ao segundo recuo de bateria estrategicamente estacionada em baixo do praticável, colocado três andares acima onde se posicionava uma câmera da transmissão do desfile. Ali não chovia, em compensação em volta…
O Salgueiro passou, e, lá de longe, apareceu a águia da Portela. E parece que a água em volta se integrou as cores usadas para representá-la no enredo que falava de meio ambiente. Antes, bem antes da passagem da rainha da bateria, Luisa Brunet, as arquibancadas já estavam sob o domínio hipnótico do que rolava na Sapucaí. Bastou a águia do abre alas ‘gritar’; para arrancar os merecidos aplausos para a comissão de frente que fluía em tons da água. E água tem tom?
Tom afinadíssimo era o da bateria de mestre Nilo que me fez correr, quando começou a sair do recuo, para ver sua chegada na apoteose. Que espetáculo! Ali, a Sapucaí se amplia e tudo que se vê na avenida reflete-se nas ondas humanas que recebem os foliões. A bateria, se curvando diante da multidão, agradecendo as palmas e os gritos de é campeã. Essa, eu vi.
Acho que outras consagrações aconteceram. Mas, então, eu já estava novamente observando tudo do setor 2. Veio a Mangueira e o centenário do frevo, mas o ‘sacode’ verde e rosa não aconteceu. O final da noite era da Viradouro, Paulo Barros, Mestre Ciça e sua rainha, Juliana Paes.
A pista de esqui perdeu a graça diante da expectativa em torno do carro sobre o nazismo proibido. ‘Liberdade ainda que tardia’, com componentes amordaçados e um Tiradentes entristecido foi um dos muitos arrepios provocados pelo carnavalesco. Chucky misturava-se com aranhas e baratas gigantes que subiam rastejantes pela alegoria. Para compensar, bolas de futebol eram atiradas para o público. E dá-lhe pingüins… Coitadas das baianas, vestidas de iglus. A pista cheia de água sujou a barra de suas saias que ficaram pesadas e encharcadas. Assim acabou a primeira noite da Sapucaí. Arrepios generalizados, inclusive nos nós que aconteceram no trânsito no final da festa.
Na segunda, havia jurado chegar cedo. E não me arrependi. A Mocidade Independente de Padre Miguel apresentou uma visão deliciosa e alto astral da vinda da corte portuguesa, tive uma aula de história do Rio de Janeiro dada pelo encarregado da pista, Honório, há mais de dez anos trabalhando no controle do vai-e-vem pelo corredor de imprensa. Foi ele quem me contou que o carro com o destaque Maurício de Paula, em meio a jatos de água, representava o chafariz feito por Valentim e que hoje está na Praça da Bandeira. A noite apenas começava…
Na seqüência, a Unidos da Tijuca, falando em coleções e brigando para anexar um título inédito as suas glórias carnavalescas e a Imperatriz Leopoldinense com a coleção de Marias do João que fizeram a história do Brasil. Depois do enredo bolivariano do ano passado, a Vila trouxe para a avenida os trabalhadores do Brasil, apoiado pela CUT. Mas o apoio mais eficaz foi o da Miss Brasil Natália Guimarães, estreando nas passarelas. As celebridades da Grande Rio deram um gás, sob a batuta de mestre Odilon, na rivalidade entre Susana Vieira e Grazieli Massafera.
Quem venceu a disputa foi o maravilhoso gari, Renato Sorriso, uma encarnação inspirada do espírito carioca. Cheio de alegria com sorriso largo, braços abertos e ginga gostosa e malevolente para colher os aplausos do público nas cadeiras, frisas e arquibancadas, ele representa o esforço de quase 3.500 funcionários da Liesa e da Riotur. Os Miltons, Bentos, Honórios e Ulisses que se desdobram para ajudar quem, como eu, sou uma só, querendo captar e transmitir milhares de visões, uma gama imensa de sentimentos, dramas, lutas e vitórias. Como a da Campeã de 2007, a Beija Flor de Nilópolis, que encerrou a festa, calando a boca de quem dizia que não havia nada possível de se fazer com um enredo sobre Macapá e o equinócio solar.
Quando você ler esta reportagem, já saberá quem é a vencedora do Carnaval carioca de 2008 e que agremiações estarão na Sapucaí no desfile das campeãs. Por isso, não vou arriscar um palpite. Mas alerto; são tantos olhares, tantas emoções e acontecimentos nas duas noites de desfile, que, certamente, muitas serão as preferidas, dependendo do ponto de vista e dos parâmetros com que se analisem as concorrentes. Não faço previsões, só posso tentar decifrar onde o coração de cada um bateu mais forte.
DESFILE DAS CAMPEÃS
No próximo sábado as seis escolas melhor classificadas voltam à Sapucaí. Confira abaixo, as escolas que receberam as melhores pontuações da comissão julgadora.
1° Beija Flor
2° Salgueiro
3° Grande Rio
4° Portela
5° Unidos da Tijuca
6° Imperatriz Leopoldinense
*Valéria del Cueto é jornalista, cineasta e colabora com o DC