A voz do povo, o dom de Jamelão
Texto e fotos de Valeria del Cueto
Odeio tecnologia! Diz uma das minhas gêmeas que me habita, fechando o circuito do paradoxo ambulante que costumo ser.
Estou no 1º. Fórum de Mídia Livre, na UFRJ, Rio de Janeiro, quando recebo pelo celular a mensagem da minha fonte 001, Lúcia Gutierrez, com seguinte texto: “ Jamelão morreu”
E só. O-d-e-i-o tecnologia, mas agradeço a gentileza da minha mãe ao me passar a informação. Ela sabia o buraco negro que se abriria e como eu precisaria enchê-lo o mais rapidamente possível para não… emburacar.
Saí do prédio da UFRJ e corri para meu abrigo antinúcleopsicocelular. A praia, a Ponta, do Leme.
Já tinha planejado tomar o sol delicioso que brilhava desde cedo na hora do intervalo de almoço, mas não imaginei que o faria assim, sob o impacto da notícia esperada, afinal Jamelão tinha 95 anos, porém não aguardada.
Então, diante do fato inexorável, só me resta prestar-lhe minha humilde homenagem. E acho que a melhor maneira de faze-lo é reeditando seu último encontro com o povo do carnaval do Sambódromo, este que venerava o ídolo que sempre será.
Fui testemunha e registrei as cenas ocorridas no sábado das campeãs do carnaval de 2006, quando ele, Jamelão, pisou na Marquês de Sapucaí para “interpretar” (ele não admitia ser chamado de puxador) o samba enredo da Mangueira. Narrei sua entrada na avenida, fotografei seu encontro com populares no Setor 1 e gravei o áudio do esquenta da escola no recuo de bateria na concentração, comandado por ele.
Mangueira, teu cenário ficou ainda mais belo com a luz de Jamelão brilhando no teu céu, verde e rosa.
Obs: Leia o texto … E Êxito, veja as fotos de Jamelão, ao som do esquenta do sábado das campeãs do carnaval de 2006
Valéria del Cueto é jornalista e cineasta
liberado para reprodução com o devido crédito
Este artigo faz parte da série Ponta do Leme