As páginas da folia
Análise de enredos, sambas, crônicas e livros de arte. Como na festa, a temporada literária carnavalesca carioca tem de “um tudo”
Texto e fotos de Valéria del Cueto
O samba é literatura, inspira a cultura, transborda e extrapola sua exuberância quando estende seus braços para um abraço apertado em seu mundo, o do carnaval. Especialmente o carioca. Juntando a fome com a vontade de comer, o passo e a contradança, só falta embalar com carinho as histórias contadas em tantos enredos visuais e musicais. Todos os anos tem gente tentando entender e registrar os acontecimentos maravilhosos que se desenrolam no centro geodésico do carnaval carioca, as escolas de samba. E é gente de valor.
Os lançamentos literários carnavalescos da temporada 2015 começaram ainda em novembro, na tradicional “La Fiorentina”, no Leme, com “O Inverso das Origens”, de Rosa Magalhães e Maria Luiza Newlands, pela editora Nova Terra. A campeã em títulos do Sambódromo destrincha seus enredos e os situa no contexto em que foram criados e desenvolvidos.
Seu último campeonato foi com festa do Arraiá, da Vila Isabel, em 2013. Esse ano, na São Clemente, seu desafio é trazer para a Sapucaí a história de Fernando Pamplona, o “Pai dos Carnavalescos”, que nos deixou ano passado.
Porém… antes de sua partida, Fernando Pamplona publicou sua autobiografia, “O encarnado e o branco”. Feitas para esse livro, mas não utilizadas, suas ilustrações são uma das ”cerejas do bolo” que enfeitam o novo livro de Fábio Fabato e Luís Antônio Simas, “Pra tudo começar na quinta-feira”: a trajetória do Carnaval carioca a partir dos enredos das escolas e de seus carnavalescos. O lançamento será no berço do samba, na Casa do Porto, no Largo de São Francisco da Prainha, centro do Rio, no dia 07 de fevereiro, a partir das 14 horas, num clima de muito samba e cerveja, com direito a bate papo com os autores e com escritor Alberto Musa.
Fabato também é o responsável por mais um título da série “Família do Carnaval” que desde 2012 vem fazendo um passeio muito íntimo por deliciosas histórias das agremiações cariocas. Este ano foi a vez de “As Primas Sapecas do Samba – Alegria, crítica e irreverência na avenida” da Editora Nova Terra. São 36 crônicas com passagens sobre as escolas Caprichosos de Pilares, contadas por Vicente Dattoli a São Clemente, sob os cuidados de Eugênio Leal e a União da Ilha do Governador, a cargo de Anderson Baltar. Todos jornalistas apaixonados falando sobre suas paixões…
A série começou em “As Três Irmãs: como um trio de penetras “arrombou a festa” abordando a carnavalização da ascensão de Beija-Flor de Nilópolis, Imperatriz Leopoldinense e Mocidade Independente de Padre Miguel no cenário das grandes escolas. Depois foi a vez de “As Titias da Folia – O brilho maduro de escolas de samba de alta idade” que resgatou as memórias da Unidos da Tijuca, Vila Isabel, Viradouro e Estácio, lançado em 2014 e vencedor do Prêmio Edison Carneiro de melhor livro de não ficção sobre carnaval.
Também está na boca do forno “O enredo do meu samba: a história de quinze sambas-enredos imortais”, de Marcelo de Mello, pela Record. O primeiro é de 1964, o último de 1994. O Editor-Assistente do Globo e integrante do Júri do Prêmio Estandarte de Ouro, mantém a tradição e revela detalhes em forma de crônicas sobre como estes sambas foram feitos e por que se transformaram em ícones musicais.
Estava de bom tamanho para uma safra literária carnavalesca, se não faltasse um último acréscimo à animada biblioteca carnavalesca carioca. Nesta sexta, dia 06 de fevereiro, mais um evento de lançamento vai movimentar o mundo do samba. E esse, de acordo com a personalidade do autor, vai fazer muito barulho. Será na tenda central da Cidade do Samba, às 13 horas e tem previsão de encerramento às 19 horas, se tudo for cronometrado, como é nos desfiles oficiais. Pelo palco passarão “embaixadas” de 7 escolas de samba cariocas homenageando o autor que já foi carnavalesco em cada uma delas: Beija-Flor, União da Ilha, Unidos da Tijuca, São Clemente, Porto da Pedra, Viradouro e Cubango.
Mais uma dica: na feijoada – é, é feijoada – estarão presentes a caráter representantes de vários segmentos do carnaval: as clássicas baianas de Maria Moura, destaques carnavalescos, passistas, performers, transformistas. Tudo numa mistura tão instigante quanto o perfil do autor paraense, animador cultural e multimídia: cenógrafo, figurinista, diretor, colunista, comentarista de televisão (Globo, Band, CNT, Record, TV Brasil), produtor cultural e… carnavalesco.
É esse último perfil, o de carnavalesco, que Milton Cunha desvenda comemorando seus 20 anos de carreira com a publicação de “Carnaval é cultura, poética e técnica no fazer Escola de Samba”, pela editora Senac São Paulo. São 500 imagens extraídas de seu acervo, anotações e referências do seu trabalho no mundo do carnaval. A “espiada” inclui detalhes dos enredos, revela seu processo criativo e esmiúça os bastidores do fazer carnavalesco que passam diante dos olhos do leitor como elementos de uma grande escola de samba, embalados pelo enredo “A diversão é o que iguala a humanidade”, frase que Milton Cunha usa ao apresentar em livro o conjunto de sua obra carnavalesca.
*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série ‘É carnaval”, do SEM FIM…